Visto que catalogamos no artigo anterior de forma clara a estrutura da percepção temporal dos marxistas, adentrando a parte mais profunda daquilo que ainda não foi o método analítico, poderíamos apenas parar por ali, pois já deixamos claro de que esta historiografia é impossível de ser aplicada indefinidamente em seus próprios termos, quanto mais os outros que veremos agora.
Metodologia
Ao mesmo tempo em que se criava o marxismo historiográfico, um dos historiadores mais notáveis do campo científico,LeopoldvonRanke (1795 – 1886), criador da perspectiva positivista histórica, definiu que a dimensão do historiador no quesito de principal importância não era teorizar perante algum documento de fonte. Isto é, a dita “interpretação de conjunto” seria inválida caso houvesse, juntamente, a fonte de “problemas e contradições” (Catalogado no estudo: “ScientificHistoriographyandthePhilosophyof Science“ HistoryandTheory, Fevereiro 2006). Um dos esquemas mais notáveis e talvez mais importantes para que tal método pudesse ser válido até hoje, se dá pela negação da História da Filosofia de Hegel, com a afirmação: "Minha concepção de 'idéias principais' é a de que elas são simplesmente as tendências dominantes em cada século. Tais tendências, no entanto, podem apenas ser descritas; elas não podem, em ultima instância, somarem-se para formar um conceito." (Von Ranke.1973. p.27). Em última instância, na concepção de Ranke, a história só pode ser formulada com fontes primárias e – dependendo das circunstâncias – secundárias.
Já, na concepção do Materialismo Histórico Dialético (MHD) – isto é, a metodologia marxista – utiliza exatamente o contrário. Quando nós olhamos para os estudos de Karl Popper (1902 – 94), especialmente na área científica, proferiu: “[...] o marxismo, em sua metodologia, é insuficiente para se colocar como ciência [...]”(A lógica da pesquisa científica - 1934 - Karl Popper). O MHD, por sua vez, já nos prova isso de maneira categórica apenas em sua formação: Primeiro Nível – Análise da infraestrutura, constituinte pelas bases econômicas fundamentais que, por sua vez, são predominantes na sociedade. Segundo Nível – Análise da superestrutura, constituinte pelos efeitos da sociedade econômica que são, simplesmente, a filosofia, cultura, educação, arte, religião, etc. Em resumo, a cultura só pode ser analisada através da infraestrutura econômica que a fez surgir (na mente marxista).
Acontece que estes dois níveis não condizem com a realidade. Pelo menos, a ordem deles. Olhemos apenas para a história da vida de Platão. Nas regiões agrícolas, cidades-estados de Eubéia, por exemplo, havia problemas de comunicações, o autodesenvolvimento dos governos estava cada vez mais precário e, principalmente, a economia estava decadente. (Will Durant em“História da Filosofia”. Ed. 1926). Se a historiografia marxista estivesse correta, teríamos que deduzir ou concluir que a filosofia de Sócrates/Platão, simplesmente não seria uma filosofia, pois não se baseou numa infraestrutura econômica resistente.
A verdade é: Nunca houve influências econômicas na cultura a ponto de coloca-la acima (ou abaixo) da capacidade que ela mesma tem. A cultura, religião, filosofia, arte e educação são coisas muito distintas da realidade econômica e como ela se apresenta e age na sociedade.
Basta saber disso para ver que o MHD nos leva a uma variedade de interpretações que simplesmente nos remete para uma visão de um passado que pode ser alterado conforme as circunstâncias. Isso também se deve ao fato de que a dialética que implica a contradição de Hegel que foi definitivamente aproveitada por Marx.
Ora, se Karl Marx coloca a dialética hegeliana – esta que implica na contradição da dialética que acaba criando uma terceira (filosoficamente falando) –como pressuposto para a análise de fatos registrados historicamente e sendo eles irreversíveis, quem pode nos garantir que os fatos e circunstâncias históricas não podem ser alterados, já que sua estrutura analítica consiste em uma dialética contraditória que pode flutuar acima dos acontecimentos?
Além deste problema que já nos é evidenciado em “O Capital” (Karl Marx, ed. 1867) e nas obras seguintes dos famosos Eric Hobsbawm e E.P Thompson que na verdade consistem apenas no efeito de ser impossível de analisar e compreender o passado, também surge, enfim, o problema de “desproblematizar conteúdos fundamentalmente problemáticos”.
Alguns deles:
1- MHD só pode ser aplicado caso você der por resolvido os problemas filosóficos que, essencialmente, já dizem respeito à própria existência humana e convivência social.
2- A tentativa de corresponder às várias idéias individuais a grupos sociais definidos, nunca funciona. O maior exemplo disso é o próprio Karl Marx.
3- A História da Filosofia, por exemplo, consiste em eliminar a existência do objeto (filosofia) e, pergunto: Como a análise marxista pode transitar de um método analítico econômico para o social, contudo, caso tentemos coloca-lo na análise filosófica, ele simplesmente seria impossível de ser realizado em sua base, visto que Hegel criou o término artificial da história da filosofia? (Lembrando novamente que o MHD é baseado, intrinsicamente, na dialética hegeliana).
New-Marxistas
O MHD como o método, contém algumas características (Modo de Produção Asiático/ Escravista/ Feudal/ Burguês) que os marxistas acabaram por desavir recentemente, no intuito – ainda não realizado – de parecerem menos comunistas.
Vemos que o método de análise consiste na busca de provar historicamente que o Socialismo/Comunismo é possível de ser realizado e que, de uma forma ou de outra, chegará após o capitalismo ruir. Não obstante, os new-marxistas (antonomásia feita por este que vos escreve), após enxergarem que o Comunismo é simplesmente impossível (dado as demonstrações em 1921 por Ludwig vonMises, e demais acontecimentos como A queda do Muro de Berlim –1989), visaram criar uma nova condição de conteúdo e terminologia que seria: Modo de Produção Paladino Aldeão, entre outras análises.
Neste novo conceito, visaram analisar a história como completo, refletindo o erro que Karl Marx havia cometido no quesito de “linearidade”, praticando a dialética interna e externa e, por fim e o mais importante fator, dizer que não são comunistas/marxistas, pois apenas utilizam o método para análise histórica. Porém, de cara nós já conseguimos evidenciar poucos dos vários problemas de que essa nova história (não confundir com a terminologia “História Nova” da Escola dos Annales) nos apresenta.
Dentre eles:
1- Admitindo que Karl Marx houvesse errado em suas análises que deveriam ter sido dialéticas, mas acabou optando pela linearidade dos fatos (evolução do capital), e por conta disso acabam criando um método que implica na dialética, nos mostra de que estes historiadores new-marxistas apenas criaram a metodologia que Marx tanto queria.
2- Praticando a dialética interna e externa visaram, por sua vez, o método que Marx praticou perante a sociedade (e não na economia), ao mesmo tempo em que provam a tese anterior. Uma vez que esta dialética que implica na contradição de si mesma, ao analisar os fatos históricos, apenas alavancou o que Marx quis: Expandir o MHD para qualquer análise seja ela Oriental ou Ocidental.
3- Por conta da existência dos dois fatores acima, pergunto eu: Como que alguém pode se intitular um “anti-comunista” ao mesmo tempo em que recriou exatamente aquilo que Karl Marx tentou criar – para provar necessidade do movimento revolucionário – em função da existência hipotética do comunismo?
Percebemos, portanto, que a historiografia marxista não passa da estrutura mental de futuros hipotéticos, contradições internas e externas perante sua capacidade de auto valorização temporal (new-marxistas), e que a funcionalidade desse sistema analítico é simplesmente inexistente e impossível de acontecer. Visto que o surgimento de efeitos causais não contém em si mesmo a explicação definitiva, só resta a interpretação falsa, o desespero de cacoetes mentais e a deturpação necessária de documentos e fontes históricas.
Por: Lucas Emmanuel Plaça
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