sábado, 24 de dezembro de 2016

Lembranças do Conde D' Eu




Em 1921, quando visitou o Brasil pouco antes de sua morte, o Conde d’Eu foi recepcionado e acompanhado pelo historiado Max Fleiuss, que deixou narrados alguns episódios ocorridos na ocasião:
“No Palace Hotel, onde se achava hospedado, assisti a várias cenas que lhe confirmavam a estupenda memória. Certa manhã foi visitá-lo um cavalheiro da família Miranda Montenegro. Ao entrar, fez uma reverência. O Conde encarou-o, e de pronto chamou-o pelo nome de batismo, e nos disse havê-lo conhecido menino, na fazenda de seus pais, contando pitorescamente vários incidentes, um dos quais foi a passagem numa pequena ponte carcomida, do que resultou um banho nada confortável.
Outra visita foi a de um ancião de grandes barbas brancas, calças da mesma cor e um fraque antigo. Ao vê-lo, o Conde abraçou-o com enternecimento e, pondo-lhe a mão na cabeça, exclamou:
– Cá está ela!”
Era uma depressão produzida por uma bala, na Batalha de Campo Grande. O velho chorou de prazer.

“O Conde d’Eu insistiu em visitar o Palácio Guanabara, que fora a residência oficial da Princesa Isabel e dele. Ao se aproximar, comentou:
– Como está mudado!
Descendo do automóvel, ficou diante do portão, silencioso, estático, os olhos molhados, rolando saudosamente à direita e à esquerda, como numa evocação. Depois, voltou-se. O seu olhar estendeu-se por toda a Rua Paissandu, e ele caminhou para as três palmeiras do começo da rua:
– Está aqui! São estas! São estas! Estas três foram plantadas por Isabel. E aquelas outras foram plantadas por mim.”

“Pediu-me que o levasse à Igreja da Glória.
Ao chegarmos ao pátio do templo tradicional, a igreja estava de portas fechadas. Um homem varria a escadaria exterior. Saltei do automóvel e pedi permissão para entrarmos.
– Agora não é possível, patrão.
Insisti alegando que estava ali o Conde d’Eu. Ao ouvir o nome de Sua Alteza, o varredor arregalou os olhos, e a vassoura caiu-lhe das mãos. O homem sumiu-se, e minutos depois a porta da igreja abria-se. Entramos. O templo estava vazio, mudo, mergulhado numa penumbra que era escuridão para os nossos olhos acostumados à claridade exterior. O Conde encaminhou-se para o altar-mor, e ali ficou, num esforço de pupilas, a olhar para o altar-mor. Subitamente, para nossa surpresa, a igreja iluminou-se. É que o varredor correra a avisar o sacristão, e a surpresa da luz fora um gesto gentil do sacristão, para com o marido da Redentora.”
- Baseado em trechos do livro “Revivendo o Brasil-Império”, de Leopoldo Bibiano Xavier.

Conde D' Eu



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