terça-feira, 24 de janeiro de 2017

História da Literatura Brasileira (Pós-Modernismo e os Sobreviventes)




O presente artigo representará, ao leitor, através de breves reflexões baseadas nas novas vertentes, movimentos e idéias do século XX – além de determinados coeficientes, infelizmente, políticos – o entender do o que aconteceu com a Literatura Brasileira. Há sobreviventes do cenário caótico – literariamente falando – e que, não obstante, por fatores que contradizem a própria estrutura daquilo que se compreendem como a produção literária, tais escritores muitas vezes são esquecidos e apagados em nossa história. Lembremos, antes de aprofundarmos a questão central, os bons e persistentes escritores (Diferentemente dos artigos anteriores, não me concentrei em uma cronologia explícita);

Na História da Literatura Brasileira, pudemos perceber que a quantidade do sentimento de crescimento literário foi durante séculos; todos devem ser – e como acredito que fora – catalogado com o devido respeito para com seu contexto, seu foco de interesse e dentro das suas particularidades mais sinceras na construção lírica. Desde os estilos mais gongóricos, pitoresco ou romântico, até parnasiano ou simbolista ao extremo, caracterizam, por excelência, uma linha de evolução (atento-me a este termo que pode parecer ligado a uma corrente positivista; não é o caso) dissemelhante e ao mesmo tempo tênue.

Mas nem sempre a Literatura Brasileira foi autenticamente nacional, assim como o quiseram os românticos, ao aprofundarem o nativismo e o sentimento indianista, e os modernistas com os intuitos de inovações efêmeras em lirismo e imensas em altercações de regras; e quem dirá, nem precisando ser um bom entendedor, de que até mesmo os meios e as finalidades propostas por ambas as vertentes não contiveram respaldos externos, senão as próprias idéias que se afloraram através do Iluminismo e Positivismo europeu?

Basta essa razão para constatar que nem sempre temos de nos contentar com aquilo que nos é apresentado, diante de nossos olhos. É preciso ir além, a fim de enxergar suas origens e seus nexos. Fora o fato de não ser oriundo do Brasil, o autor que mais apresentou esses fatores, demonstrando as vertentes, ao menos um pouco de suas ligações internas e externas para com os aspectos e idéias filosóficas, além de evidenciá-las em um traçado temporal e histórico impecável, foi ninguém menos do que Otto Maria Carpeaux, em sua obra monumental intitulada “História da Literatura Ocidental”. Publicada em 1947, no Brasil, contendo hoje ao todo 8 (oito) volumes, é nela que Otto manifestou todo o seu conhecimento histórico, e cultura filosófica, realizando breves ligações com a Literatura.

Essa obra, em específica, realiza um traçado desde os tempos Helenísticos da História, pretendendo relacioná-los no que tange as literaturas contemporâneas do autor. A lista de referências é de quantidade absurda; mas isso se dá pelo interesse vocacional e sincero que Carpeaux tinha para com essa obra, portanto, não foram – como alguns outros escritores mais medíocres – meras citações, relações e referências vagas, no intuito de encher a obra. Nesse ponto Carpeaux consegue efetuar uma unidade de pensamento sobre cada autor e vertente sem nenhum resquício de pernosticismo. Sem mencionar, também, os breves estudos bibliográficos contidos – e que posteriormente seriam aprofundados, tornando-se livros separados – Carpeaux ainda procede, através delas, com estudos a respeito de História da Música, roteiros para programas radiofônicos e até mesmo roteiros cinematográficos.

Em importantes trechos da obra têm-se informações muito profundas, mas, o que se torna interessante quando relacionadoao Brasil é que Carpeaux entendia de que ele deveria valorizar a cultura Nacional que o recebeu; isto é, também, Otto Maria Carpeaux não foi brasileiro, mas tornou-se a partir do momento em que efetuou colaborações tão importantes para a sociedade brasileira (“Sociedade Brasileira” no sentido mais lato possível; seja de Estudos ou não). Podemos dizer que apenas’ com a magnífica obra História da Literatura Ocidental, sendo publicada inicialmente no Brasil, já nos concede uma honra nacional inimaginável – isso sem enunciar todos os estudos e obras realizadas unicamente a partir da literatura brasileira. No entanto, a grandeza de Carpeaux foi desprezada e jogada para segundo plano por praticamente toda a sua vida; ora desprezado, ora amedrontado para com as situações políticas.

Durante meados do Século XX, o mundo, e em especial a Europa, se viu diante de conflitos armados e políticos profundos que evidenciaram, por muito tempo, apenas seu futuro incerto. Carpeaux estivera no meio disso. Assumidamente Católico – depois de abandonar o Judaísmo – se deparou com dois grandes problemas em torno de 1930 e 1940: Comunismo Soviético e a Alemanha Nazista. Por essa razão, mais do que suficiente, junto com a esposa vieram para o Brasil em 1939, alterando seu nomeno mesmo mês em que se estourava a Segunda Guerra Mundial na Europa para que não fosse encontrado; instalaram-se, depois de desembarcarem no Paraná, em São Paulo.

A vida no Brasil não foi nada fácil. Logo após de vender boa parte de seus pertences (livros, obras de arte) para conseguir sobreviver, teve de se submeter à ideologia comunista – ao menos em sua aparência intelectual e moral – para que não perdesse o emprego que havia conquistado; quanto a isso, Carlos Heitor, muito próximo ao Carpeaux, dizia que ele, apesar de ter de se entregar as idéias comunistas – como, por exemplo, ter que mentir a respeito de ser contra única e exclusivamente aos Nazistas quando, na verdade, o era também dos Soviéticos – ainda “tinha coração católico [...] rezava escondido dos esquerdistas”. Em palavras do Filósofo Brasileiro Olavo de Carvalho, até Mauro Ventura, através de uma pesquisa na Áustria, confirmou alguns desses aspectos, evidenciando de que era necessário entender de que Carpeaux, na verdade, tratava-se de um Ultra-Conservador.

                   “O fim da vida do Carpeaux foi muito melancólico porque depois de muitos anos dessa coisa, depois do golpe de 64 que foi quando ele caiu na dependência do Partido (comunista; ênfase do autor), ele foi decaindo intelectualmente de uma maneira extraordinária. Você vê que os artigos dele vão ficando cada vez mais e mais insignificantes [...] Franklin de Oliveira, dizia que no leito de morte, Carpeaux chorava dizendo: joguei minha vida fora... é claro que não jogou. O que ele fez, o que tinha feito, é mais do que suficiente para justificar dez vidas, não uma [...] (Olavo de Carvalho, 2014).

Foi, durante muito tempo, esquecido nos livros de História da Literatura brasileira, sendo um homem que contribuiu tanto para a cultura nacional. Foi Otto Maria Carpeaux, um dos primeiros Brasileiros (e Não-Brasileiros) que sofreu, a partir das chulas aspirações e dicotomias políticas, o choque da realidade que ali se instaurava.

Dos sobreviventes ainda podemos dizer de que existe, no nosso século (XXI), escritores como ninguém menos do que Rodrigo Gurgel – que também é ensaísta e crítico literário. Em diversos relatos importantes através do novo meio de comunicação, a Internet, Gurgel passou a evidenciar diversas problemáticas da Literatura atual, juntamente com o filósofo Olavo de Carvalho.

Cito Gurgel como um dos sobreviventes, sem fazer a devida alusão para com outros contribuintes para o “re-engrandecimento” da literatura, por critérios de documentais e até temporais. Mas há de ser necessário – e muito bem informativo para o leitor – ter ciência dos demais escritores (lembrando-vos de que não necessita ser de nacionalidade Brasileira). Carlos Nadalin, Paulo Briguet, Yuri Vieira e Érico Nogueira, por exemplo, participaram – juntamente com Rodrigo Gurgel – no segundo grande encontro com Olavo de Carvalho, na Virgínia, Estados Unidos, já em 2015. No encontro – que está devidamente publicado na internet – podemos perceber de que, tais nomes e indivíduos que ali estavam, buscaram compreender os nexos problemáticos da literatura brasileira, a fim de almejar um realce básico para com a situação literária atual. Os quatro temas discutidos foram: “1) Descrição geral e história da deterioração da cultura brasileira, identificando os principais agentes e promotores da ignorância; 2) Transformações sofridas no idioma. Os métodos de alfabetização e de ensino, responsáveis pela alienação dos estudantes. A manipulação marxista-leninista nas escolas e universidades; 3) A literatura de hoje e a de meio século atrás. Degradação das inteligências individuais e da moral política; 4) Experiências culturais positivas. A vida inteligente no Brasil de hoje, ainda que exilada pela mídia e por outros atores sociais.

Pós-Modernismo Literário?

Não é normal uma decadência cultural tão profunda como esta a do Brasil. Já catalogamos, mesmo que vagamente, de que o intuito Modernista do século XX foi sem precedentes e até de certa forma sem escrúpulos. As novas “leis e formas” para o produzir lírico, como por exemplo o apelo gramatical fortíssimo sem a necessidade de interpretação interior, sem demora evidenciava-se uma clara dissolução para com a própria Literatura predecessora, fragmentando o nexo para com a realidade, suscitando o intuito único e exclusivo de inovação; há critérios – e até mesmo autores – que apontam a essência dessa conjuntura como apenas um resultado prático das idéias positivistas.

Talvez não haja como negar este aspecto que se mostra tão petulante. E, também, pode-nos servir de arcabouço histórico-literário para conseguirmos compreender de uma maneira mais ampla a situação atual. Não seria a idéia positivista a mesma que pretende ignorar e/ou excluir até mesmo os fundamentos do passado? Não seria, também, o intuito da República? Se compreendermos de que o movimento Modernista esteve intrinsecamente ligado para com os fundamentos e idéias da República, podemos dizer, sem medo de errar, que o Pós-Modernismo vive na literatura contemporânea como efeito de todos esses precedentes; isto é, o pós-modernismo, dentro da literatura pode ser classificado de resgate aos alicerces modernos com a única diferença de aplicação desprendida no que tange as regras anteriores.

Na medida em que estes novos fundamentos literários foram se incluindo, que deixam de lado assuntos elevados e de complexidades reais, por outro lado os assuntos mais levianos e medíocres passam a rodear o cenário da literatura; casos de problemas políticos banais e insignificantes, como “de qual gênero eu sou?”, passaram a ser até mesmo financiados. Da interferência político-ideológica, iniciada já nos fins do Século XX, mostra hoje as suas consequências; escritores de literatura, em sua grande maioria, interessados em escrever apenas sobre elementos partidários e não sobre o que se efetuou na sociedade e qual a relação dela para com o próprio autor. Não tem muito do que se esperar, pois, nem mesmo na linguística, os autores de hoje em dia, escrevem com consciência.

Sejamos sinceros. É infinitamente triste perceber que o nível da nossa literatura nacional, que obteve realces e engrandecimentos em boa parte de sua história, que obteve grandíssimos escritores que fortaleceram a cultura e serviram de respaldo histórico até como figuras excepcionais, esteja indo por água abaixo durante as últimas décadas; este cenário, concomitante para com a quase incapacidade de poder reverter esse processo em curto prazo, ocasiona ainda mais descrença para alguma mudança. No entanto, aos poucos, podemos ver pessoas bem intencionadas, grupos de indivíduos que pretendem restaurar e relembrar os fundamentos de nossa sociedade de estudo. De todo o modo, euacredito que somente o tempo nos mostrará o caminho certo, assim como se tem demonstrado por toda a História.


Por: Lucas Emmanuel Plaça

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