domingo, 26 de fevereiro de 2017

Você sabe de onde veio a expressão "Comunista come criancinha"?




Você sabe de onde veio a expressão "Comunista come criancinha"?

Canibais com suas vítimas, na província de Samara, em 1921.
Imagem: FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa – 1891 – 1924. p. 699.

Lênin, a partir de 1919, iniciara uma política de confisco de grãos dos camponeses, que gradualmente levaria uma crise de fome em massa na população. A tentativa de planificar a economia, através do controle de distribuição de alimentos, mediante apropriação forçada dos grãos dos camponeses, a fim de abastecer as cidades, gerou não somente revolta e uma feroz guerra civil no campo, como uma diminuição gradual da produção de cereais na Rússia.

Os camponeses foram proibidos de vender livremente seus excedentes e os bolchevistas, exigindo cotas de produção acima das possibilidades do campo, empobreceu-os radicalmente, gerando escassez de alimentos. Os bolchevistas, através de uma incrível violência, torturando, matando e saqueando os agricultores, não somente confiscavam tudo que o camponês tinha, como não poupavam nem os grãos guardados para a o replantio de novas safras agrícolas.

As regiões mais ricas da Rússia, como Tambov e outros arredores de Moscou, outrora grandes exportadores de cereais, por volta de 1920, ameaçava perecer pela fome. Os comissários da Tcheka, em memorandos direcionados a Lênin e Molotov, relatavam a incapacidade dos camponeses de oferecem seus grãos, já que não somente o campo tinha se desestabilizado, como simplesmente a produção agrícola decaído. No entanto, sabendo dessas informações, Lênin radicalizou o processo, obrigando cada vez mais os camponeses a darem suas cotas de produção onde eles não existiam mais.

Antonov-Ovsenko, em uma carta sincera a um correligionário do partido, dizia que as exigências bolcheviques para a agricultura, em milhões de puds de cereais, eram tão além das expectativas da população, que ela simplesmente morreria de fome. E, de fato, foi o que ocorreu. Por volta de 1921 e 1922, 30 milhões de russos foram atingidos por uma crise de fome monstruosa, prontos a perecerem. O país caiu num caos completo. Rebeliões explodiam por todo a Rússia e arredores. Os marinheiros de Kronstadt se rebelaram e fizeram alianças com os camponeses insurretos e esfomeados.

E a fúria da população era tanta, que os " comissários do povo" perdiam o controle de várias cidades russas, já que eram massacrados pela turba enraivecida. Numa dessas cidades, os grãos de alimentos confiscados apodreciam na estação ferroviária, enquanto a população morrendo de fome, enfrentando os tiros dados pelos soldados do exército vermelho, saqueavam tudo quanto viam. Em algumas cidades como Bachkiria, Pugachev e Novouzenki era comum pessoas se alimentarem de cadáveres roubados nos cemitérios e até mesmo de cadáveres de parentes que haviam acabado de morrer. Nos arquivos da Revolução Russa de 1917 o pesquisador Orlando Figes, da Universidade de Cambridge, encontrou o seguinte relato: "...um homem condenado após ter devorado várias crianças confessou: -Em nossa aldeia ,todos comem carne humana, apenas não revelam. Há inúmeras tavernas na vila e todas, servem pratos à base de crianças.

Em Pugachev havia bandos de canibais e de negociantes de carne humana, que davam, preferencia à carne de crianças por ser mais tenra...".

A fome transformou as pessoas em canibais. Esse foi um fenômeno muito mais comum do que os historiadores têm presumido. Na Bachkíria e nas estepes em torno de Pugachev e Buzuluck, onde a falta de alimentos era aguda, verificaram-se milhares de casos, cuja maioria nem chegou a ser registrada. Um homem, condenado após ter devorado várias crianças, confessou: “Em nossa aldeia, todos consomem carne humana, mas não revelam que o fazem”. “Há inúmeras tavernas na vila e todas servem pratos à base de crianças”. (FIGES, 1999, p. 954).

As mães, desesperadas para dar de comer aos filhos, cortavam pernas e braços dos cadáveres e ferviam a carne (FIGES, 1999), as pessoas se alimentavam dos próprios parentes, com freqüência, bebês, menos resistentes à fome e às doenças e cuja carne era mais tenra. FIGES (1999) afirma também que havia bandos de canibais e negociantes que matavam crianças pequenas, fosse para consumo próprio, fosse para vender a carne numa taverna.

Em algumas aldeias, os camponeses recusavam-se a enterrar os mortos, preferindo guardar os corpos nos silos e estábulos; não raro, a gente do campo pedia às turmas de socorro às vítimas da fome que, em vez de recolher os defuntos, os abandonassem nos povoados. Na aldeia de Ivanovka, perto de Pugachev, uma mulher foi flagrada devorando a carne do marido. A refeição estava sendo dividida com o filho do casal. Quando as autoridades policiais tentaram jogar fora o que ainda havia no prato, ela gritou: “Não, precisamos dele para nos alimentar, ele é nosso sangue e ninguém tem o direito de levá-lo de nós”. (FIGES, 1999, p. 954).

Segundo FIGES (1999) intelectuais russos com grande notoriedade mundial, reuniram-se numa comissão, para pedir a Lênin, que pressionasse, no sentido de ajuda internacional às vítimas da fome. Á primeira vista, o regime bolchevista não ficou interessado na história, porém, com a pressão da opinião pública internacional assistindo a tragédia do país, eles foram obrigados a conceder, em parte por pressão internacional e, em parte, para pacificar o país esfomeado.

American Relief Administration (Administração de Auxílio Americana) alimentou, diariamente, dez milhões de pessoas e distribuíram enormes quantidades de remédios, roupas, ferramentas e sementes, suficientes para assegurar duas colheitas consecutivas e abundantes (as de 1922 e 1923), que finalmente permitiram ao país recuperar-se do flagelo. (FIGES, 1999, p. 956).


Se não fosse à ajuda internacional e, em particular, a ajuda norte-americana, com o apoio logístico do exército dos Estados Unidos, mais pessoas morreriam. Quando a situação se pacificou, os bolchevistas prenderam os intelectuais russos que pediram a ajuda internacional e só não foram fuzilados, por causa, mais uma vez, da pressão pública internacional, o regime soviético os expulsou do país com a roupa do corpo.

FIGES, Orlando. A Tragédia de um Povo, A Revolução Russa
http://revolucaorussatragediahumana.blogspot.com.br/2010/12/vladimir-ilitch-lenin.html

A Grande Fome de 1921-1922
O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão. p.265.



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